Por João Luis de Almeida
A Distância
As vezes, a distância não se mede em léguas, mas silêncios que se estendem entre um pensamento e outro. O campo que um dia vi como longe demais pra voltar, hoje cabe inteiro na palma da memória. É curioso como o tempo vai encurtando os caminhos que o corpo já não percorre, mas que a alma nunca deixou de habitar.
Pago, querência, cheiro de chão molhado....tudo continua enraizado no peito, mesmo quando os olhos já não alcançam, o aramado lindeiro. É dentro da gente que mora o longe. E é ali também que o perto se acende, feito candieiro antigo clareando lembrança. A saudade, essa tropeira velha, vai laçando o coração com laços que não se rompem, só se alongam. E cada lembrança parece um corredor comprido que leva de volta pra algum lugar que nunca saiu da gente.
O que ontem era inatingível, hoje se mostra simples. A mente, calejada de espera, aprende a colher sentido até na ausência. Talvez seja isso crescer: entender que o mundo de fora só ganha forma quando a gente se alinha por dentro.
No fim, a distância verdadeira é a que a gente leva no peito, entre o que foi e o que ainda pulsa. E mesmo que os passos não alcancem mais o mesmo, a alma segue morando onde sempre foi lar.
... Talvez a distância seja só silêncio calado,
Entre um suspiro e outro, se estende devagar.
O campo, antes longe, hoje é lembrança ao lado,
Cabe inteiro no peito, sem sequer precisar galgar...
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