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Pampeano
Por João Luis de Almeida
Pampeano
Pampeano é o pago que se estende sem fim, moldado pela lembrança dos tempos sem arames nem porteiras, quando o horizonte era apenas imaginação. É herança que o tempo não consome, pois vive no campo aberto, nas águas que se espraiam em lagoas e sangas, chorando baixinho ao atravessar a vastidão.
É também a força dos temporais, quando o céu se quebra em açoite sobre os descampados, transformando dia em noite na armação cabulosa da natureza. O entardecer traz consigo a melancolia antiga, cobrindo de sombra o campo que se deita devagar, embalado no catre da escuridão, como quem descansa de uma lida sem fim.
O pampeano é vento minuano correndo solto nas coxilhas, vergando flechilhas e assoviando nos oitões dos ranchos, como se fosse voz da própria terra. Faz redemoinhos de poeira nos paradores...
Pampeano é alma campeira, guardando em si a filosofia da lida. É o gaúcho que, na solidão das madrugadas, encontra no mate amargo e na memória de sua querência a razão de permanecer, preservando o pago como quem preserva a si mesmo.
...Pampeano é lagoa grande e sanga que chora
Vertente que corre e atravessa campo afora
Uma cabulosa armação onde o dia vira noite
E o céu desabando num temporal dando açoite
Pampeano é a velha nostalgia num entardecer
Que se aprochega acolherada ao anoitecer
Horizonte largo que lento se esconde da visão
Adormecendo o campo no catre da escuridão....
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