Por Marcus Morais
ONDE ESTÁ NOSSA ESSÊNCIA?
Ao lançarmos nosso olhar sobre as relações de constituição de nossos processos históricos, podemos pensar tal relação considerando os conceitos culturais e sociais, a partir de uma perspectiva sócio-histórica, por meio do materialismo dialético.
Desta forma estabelecendo uma visão de o que vem a ser cultura e nossas relações mais essenciais,.
De Marx a Foucault, perpassamos pelos processos que estes vão definir como “”desessencialização” do indivíduo, ou seja, que os seres humanos por si só não possuem uma essência natural.
Em outras palavras, se assim o fosse, não poderíamos considerar nossos processos históricos, logo, somos segundo os pensadores destes processos, seres historicamente construídos, em especial através de complexos processos por Marx definidos como Processos de apropriação e objetivação.
Somos o resultado de tudo o que vivemos, da forma com que vivemos e como atuamos sobre nossa própria existência e a de outros da nossa espécie, de maneira consciente ou não.
Somos o reflexo do momento histórico no qual estamos, nos apropriamos de tudo o que nos rodeia por meio dos igualmente processos sociais, para que desta forma nos objetivemos nele, isto é, nos tornemos o resultado de nossos próprios processos de existência, também por ele sendo influenciado.
Somos causa e consequência de nós mesmos, individualmente, coletivamente e socialmente.
Com isso, aquilo que chamamos de essência é tão somente o reflexo de nós mesmos, porém trazendo inerentemente a seu processo constitutivo, tudo aquilo de que nos apropriamos, ao que nos objetivamos, e ao que compartilhamos, a essência é ao fim e ao cabo o resultado de nós mesmos.
E isso percebemos por meio da cultura, que de acordo com Geerts, antropólogo alemão que vai definir cultura como sendo o processo da constituição de normas e ou regras sociais estabelecidas espontaneamente por grupos sociais, ou seja, indivíduos que compartilham dos mesmos espaços e tempo histórico.
E é neste momento que pensamos a história como elemento fundamental na constituição destes processos todos, a medida que se somos resultados de nossos processos de apropriação e objetivação, somos resultados da historia por meio da memória que absorvemos do mundo e das coisas, sendo assim, determinando sua continuidade e ou censura, que por Marx será definida como alienação.
Quando promovemos o desenvolvimento de momentos e espaços próprios pra a música, a poesia, a arte nativista/gauchesca em geral, etc. não estamos fazendo cultura, mas sim estamos sendo sociais através do compartilhamento de nossos processos individuais e históricos, possibilitando assim a permanência da memória, constituindo um processo sócio-histórico, permitindo que outros se apropriem dessas memórias historicamente constituídas e nelas venham a se objetivar, logo, possibilitando o desencadeamento de possíveis processos sociais outros, por tanto possibilitando as condições para o surgimento de relações sociais, relações entre indivíduos, e assim cultura.
Não podemos determinar o que vai ser cultura, mas podemos sim determinar as possibilidades para o desenvolvimento da mesma.
Fazer cultura é viver conscientemente o momento histórico em que se está, preservar a memória, compartilhar memórias e seus processos adjacentes, deixar a cultura florescer livremente, e assim, só assim percebermos o que é realmente essencial para cada um de nós, não o que é, mas onde está a nossa essência.
Marcus Morais.
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