A história nos mostra que foram diversas as matrizes culturais que formaram a música dita como típica gaúcha. Esta mistura de influência étnicas e culturais que formam o Rio Grande do Sul, constantemente acrescidas por novas informações trazidas pelos imigrantes, migrantes, visitantes nacionais e estrangeiros, foi lentamente construindo a sonoridade gaúcha.
Portanto, a música gaúcha tradicional está alicerçada em alguns elementos de base que, ao contrário do que se imagina, não estão aqui “desde todo o sempre” e sim foram se formatando lentamente, num processo contínuo de mistura das mais variadas vertentes, de forma a resultarem nos chamados elementos nativos.
A delimitação mais rígida entre música rural e música urbana gaúcha, nem sempre existiu. Considera-se que esta divisão iniciou-se a partir da década de 70, do século XX, tendo como marco a criação da Califórnia da Canção, festival de música realizado na cidade de Uruguaiana/RS. Antes de tal marco, de um modo geral, compositores, instrumentistas e intérpretes gaúchos tanto tinham uma produção de músicas urbanas (sambas, tangos, choros, valsas, etc) como uma produção de músicas com ritmos e temáticas considerados regionais.
Também – dos anos 30 até os 60, do século XX - houve no Rio Grande do Sul uma pujante “Época de Ouro” do rádio, tendo como destaque as rádios Farroupilha, Gaúcha e Difusora, além de muitas outras espalhadas pela capital e interior do Estado. Da mesma forma, algumas rádios do centro do País eram muito ouvidas por aqui. Por isso compositores, instrumentistas e intérpretes sofriam enorme influência da música produzida no centro do Brasil.
Como exemplo temos o Conjunto Farroupilha, grupo vocal que transitava entre a música internacional, a música brasileira urbana e a música tradicionalista gaúcha; e também Lupicínio Rodrigues, que tem sua maior obra musical como sambista, mas escreveu o clássico gaúcho “Amargo”.
A partir do final dos anos 70, do século XX, a música urbana feita no Rio Grande do Sul, passou a ser conhecida como MPG – Música Popular Gaúcha. Esta sigla nem sempre é aceita por músicos do Estado, devido a suas especificidades estilísticas, mas o fato é que a sigla se consagrou (hoje não sendo mais tão utilizada).
Em 1978 o Estúdio ISAEC, de Porto Alegre, adquire equipamentos e lança o selo “Gravadora ISAEC”. No mesmo ano, lança a coletânea Paralelo 30, considerado um marco na música urbana do Rio Grande do Sul. O álbum, produzido pelo jornalista e crítico musical Juarez Fonseca, reuniu seis compositores/intérpretes: Bebeto Alves, Carlinhos Hartlieb, Raul Ellwanger, Claudio Vera Cruz, Nando D’Avila e Nelson Coelho de Castro, cada um com duas composições.
Esse álbum, Paralelo 30, foi o início do desenvolvimento de uma indústria fonográfica em Porto Alegre.
Em setembro de 1982 o produtor Ayrton “Patineti” dos Anjos criou o Festival Música Popular Gaúcha no Teatro São Caetano, RJ. O show foi uma resposta a uma provocação de um produtor carioca que, ao ver um show nativista, perguntou o que mais havia em Porto Alegre. Respondeu Patineti que havia a MPG. E durante cinco noites de shows se apresentaram Carlinhos Hartlieb, Jerônimo Jardim, Bebeto Alves, Nelson Coelho de Castro, Geraldo Flach, Raul Ellwanger, Mauro Kwitko, Pery Sousa, Galileu Arruda e Berenice Azambuja.
O Festival Música Popular Gaúcha teve grande visibilidade e foi responsável por apresentar a MPG ao Brasil, abrindo portas no centro do País para muitos artistas.
Referência bibliográfica: Rogério Ratner
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