Inúmeras vezes, nós gaúchos, tradicionalistas e ou nativistas, apreciadores da arte gaúcha feita no Rio Grande do Sul, nos deparamos com clássico comentário;: Vocês gaúchos celebram no 20 de Setembro uma guerra que foi por vocês perdida.
Será?
Em um breve olhar, partimos dos principais elementos motivadores da chamada Revolução Farroupilha ou também conhecida por guerra dos Farrapos.
Elencaremos aqui apenas os 3 principais vetores desse conflito: O alto preço do charque por consequência das altas taxações de impostos promulgados pelo governo central imperial do Brasil, em consonância com irrisórias taxas de importação dadas ao mesmo produto proveniente de Uruguai e Argentina.
Incapacidade do mesmo governo central do Brasil de atender as demandas de infraestrutura necessárias na província, bem como uma reduzida autonomia aos produtores de gado e parte da classe média local, que conjuntamente com os setores pré-industriais, os charqueadores, compunham a burguesia provincial. Com tudo, não sendo os últimos simpatizantes dos ideais republicanos farroupilhas.
A saber, a guerra dos Farrapos não foi nem de longe uma revolta popular, nem tão pouco uma propensa revolta libertária, como tal, nem mesmo, por conceito, uma revolução, com efeito, trata-se de um levante político militar promovido por parte da burguesia rio-grandense, insatisfeita com as condições político-econômicas nas quais se encontravam.
O 11 de Setembro de 1836 propõe o separatismo como uma ação radical para forçar o desencadeamento de um processo que levasse ao pleno atendimento de tais necessidades, a rigor contempladas ao término do conflito.
A nomeação de um presidente da província local e ou da total confiança dos rio-grandenses, embora posteriormente não atendida, fora considerada como aceita por parte do império brasileiro, por outro lado, a abolição ou alforria dos escravos combatentes ao lado dos rio-grandenses, além de ter sido em sua totalidade não atendida, não era em geral uma reinvindicação primordial dos comandantes locais, em sua maioria escravistas, mas sim uma estratégia interna para agregar força de combate as tropas farroupilhas.
Sendo pois declarada, em primeiro de Março de 1845,a rendição na guerra através do tratado de Poncho Verde, indiretamente, neste momento o império do Brasil reconhece neste último instante a existência de uma república no sul do Brasil, uma vez que paz na guerra é um termo utilizado somente na declaração de paz entre dois Estados independentes.
De mesma forma ao atender as reais reinvindicações dos rio-grandenses, não havia nenhuma necessidade e ou intenção dos mesmos de se tornarem de fato uma republiqueta latino-americana. O que no período não representaria nenhuma potencial importância no cenário mundial, nem tão pouco local.
O que queremos com isso, por meio desta curta reflexão, é dizer que de maneira alguma podemos considerar a guerra dos farrapos uma guerra, revolta e ou levante perdido, mas efetivamente vitorioso, dado ao fato de que quase que em sua totalidade, suas demandas necessárias foram atendidas.
Prof. Me Marcus Morais.
Historiador, especialista, mestre e doutorando pela UFRGS.
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